quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Filme Se Eles Soubessem...


O filme Se eles soubessem... indaga jovens sobre suas experiências com o racismo presente na sociedade brasileira e apresenta as estratégias intergeracionais e coletivas produzidas para a superação desse tipo de preconceito a partir da escola “Se ele soubesse. Se ele soubesse o quê? Se ele soubesse a história dele, de onde ele veio; a raiz dele. A importância dele ou qual é a importância dele dentro dessa história, dentro deste país ou do mundo”. Quem explica é da animadora cultural do Núcleo de Cultura do Guadá Alba Lúcia, a “Makeba” no filme Se Eles Soubessem...lançado no dia 11 de dezembro pelo Observatório Jovem.
O documentário fala sobre a experiência do Colégio Estadual Guadalajara no trabalho com africanidades e os desafios da implementação da lei 10.639, que torna obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro – Brasileira nos currículos oficiais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. O documentário foi feito em parceria com o Observatório da Juventude e o Programa de Ações Afirmativas, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e financiado pelo edital Uniafro do Ministério da Educação.

Ainda que não tenha sido incorporado no filme, o Observatório Jovem também conheceu no processo de pesquisa a experiência do Colégio Estadual Professor Souza da Silveira, localizado no bairro de Quintino, na cidade do Rio de Janeiro. No colégio é realizado o Programa de Reflexões e Debates Para a Consciência Negra.

Após o lançamento do filme foi realizado um debate. Participaram a professora do Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira (Penesb/UFF) Iolanda de Oliveira, a coordenadora editorial do programa Salto Para o Futuro da TVE Brasil Bárbara Pereira, a animadora do Núcleo de Cultura do Colégio Estadual Guadalajara, Edlane Pacheco e a pesquisadora do Observatório Jovem e do Penesb Mônica Sacramento.

“Queríamos uma experiência que de certa maneira mostrasse os resultados para os professores que estão com a obrigatoriedade de implementarem a lei. O Núcleo de Cultura do Guadá se encaixou nessa proposta como uma luva porque, na verdade, já existe aí uma experiência de dez anos. É claro que com acertos e erros, mas com conquistas”, ressaltou Mônica Sacramento.
Também no dia 11 o Observatório Jovem do Rio de Janeiro promoveu o seminário Juventude, Escola e Desigualdades, que antecedeu a exibição do filme. O seminário contou com a participação da professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Mônica Peregrino e do coordenador do Observatório Jovem Paulo Carrano.
Veja o trailer do Se Eles Soubessem...em


Sobre o filme, leia também:


O jovem no Brasil


O jovem é um ator social Segundo o IBGE, em 2006, os jovens eram 27% da população, ou 51 milhões de pessoas. Mas 91% dos jovens são pobres – 31% com renda familiar per capita até meio salário mínimo, e 60%, entre meio e dois salários. E eles próprios apontam o trabalho e a educação como suas principais preocupações. “Metade do desemprego atual é de jovens”, diz Jorge Abrahão de Castro, autor, com a pesquisadora Luseni Aquino, do estudo “Juventude e Políticas Sociais no Brasil”, publicado, em abril, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).“Precisamos ter uma política econômica que dê perspectiva de crescimento com geração de emprego. Não podemos pensar em crescimento que não tenha geração de emprego”, diz Jorge Abrahão, que também é diretor de estudos so­ciais do Ipea. E detalha: “Uma política que possibilite, através da ação do Estado, oportunidade de expansão das pequenas e médias empresas, uma política para o setor de serviços, uma área em que o jovem poderia entrar muito bem”.
O pesquisador do Ipea aposta em ações objetivas, como bolsas e outras estratégias não-tradicionais, para fazer o jovem voltar à escola e se qualificar no mundo do trabalho de forma consistente e moderna, considerando as tecnologias digitais. Porque, embora tenha havido incremento do emprego formal nos últimos anos, a razão do desemprego juvenil/adulto cresceu 3,5, e na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad/IBGE), de 2005, os jovens (de 15 a 29 anos) representavam 46% do total de desempregados.
Outra medida importante, na opinião de Jorge Abrahão, é uma coordenação política que perpasse as iniciativas das várias instituições. “No caso da juventude, é necessária uma ação específica, e que recorte as demais instituições. É preciso uma coordenação de política, para poder maximizar a ação do governo.” Nesse sentido, ele acredita que o jovem entrou de fato na agenda das políticas públicas. Especialmente a partir da estruturação de uma Política Nacional de Juventude no país: a criação, em 2005, pelo governo federal, da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), apoiada pelo Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), para implementar o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem
16 de Junho de 2008
Fonte: http://www.arede.inf.br/ Lia Ribeiro Dias


A Rede • A juventude está sendo considerada, pela equipe que fez o estudo do Ipea, não mais como só uma etapa transitória, da infância para a fase adulta. Você poderia explicar o que é esse conceito e por que ele é importante para a definição das políticas públicas
Jorge Abrahão de Castro • Não é uma posição só nossa [do Ipea]. Pesquisadores que trabalham no Brasil inteiro já entendem a juventude como uma fase de per se e não mais como aquela etapa problemática ou preparatória para a vida adulta. Problemática por ser a fase da juventude em contato com riscos, em que a família precisa proteger o jovem, atuar; já a preparatória é a transição para o mundo adulto. Isso vale muito mais para a classe média, porque, para a juventude pobre, o período preparatório é muito curto.O que seria o preparatório? A fase em que a juventude estaria na escola. Depois, encontra trabalho e, dali em diante, tem possibilidade de moradia, encontra um relacionamento puro, constrói uma família e entra para o mundo adulto.
No passado, era uma fase curtinha; com 23, 24 anos, as pessoas já estavam casadas, morando fora da casa dos pais, com trabalho e logo com um filho. Hoje, essa fase está avançando. Na juventude de hoje, você percebe que o período entre a vida adulta e a adolescência está se esticando e se ampliando, pois se passa mais tempo na escola. O jovem está virando adulto depois dos 27, 28 anos.De novo, isso vale muito mais para a classe média. O jovem pobre ainda tem muita dificuldade de chegar à universidade. Esse período, o jovem de classe média até consegue que ele seja muito frutífero, fazendo sua preparação universitária ou sua pós-graduação. Assim, no momento em que o jovem está se preparando, que está nessa moratória social, ele não deixou de ser um ator social. Tem uma vida sexual normal, tem um conjunto de ações próprias e, apesar de não estar ainda no mercado de trabalho, não quer dizer que não tenha uma vida plena enquanto jovem. E, ao ter essa vida plena, é um ator so­cial que merece ser olhado não como quem está em uma fase crítica, mas sim como um indivíduo portador de necessidades e possibilidades.





Afinal, o que são políticas públicas?

O professor da USP Dalmo Dalari, na obra Direito Administrativo e Políticas Públicas, ed. Saraiva, assinala: Não se pode ignorar que a expressão políticas públicas tem relevância no moderno vocabulário de acadêmicos e profissionais que, em diferentes áreas, tratam dos objetivos, das responsabilidades, das ações e omissões, bem como da organização do Estado e de seu relacionamento com entidades públicas e privadas. Pode-se dizer que, embora se esteja ainda bem longe da fixação de um sentido preciso e de aceitação geral, a referência a políticas públicas está ligada às interferências do Estado na vida social para a consecução de objetivos e interesses comuns".


E a juventude?

É praticamente impossível falar em políticas públicas sem levar em consideração que existem em nosso país 47 milhões de jovens de 15 a 29 anos, o que representa mais de um quarto da população brasileira. Antes de aprofundar o assunto, tomemos o bonito exemplo dos cursinhos comunitários (Educafro e outros) nos quais os jovens são chamados a assumir fortemente o protagonismo em várias atividades sociais na periferia, escolas, etc.



Políticas públicas e ações afirmativas focalizadas na juventude, como estratégia detransformação social.

Mais que beneficiários de políticas públicas específicas é importante que os jovens tenham papel ativo na formulação de políticas de seu interesse. É preciso que o jovem tenha conhecimento que a responsabilidade pela construção das Políticas Públicas de Juventude não é apenas do poder público.



Hei, juventude afro, responda: qual é a nossa missão? Estudos recentes, alguns deles realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea, evidenciam as desigualdades vivenciadas pelos afro-brasileiros em todas
as esferas da vida social. As conclusões dessas investigações convergem sempre na mesma direção: sob qualquer aspecto analisado, impressiona a magnitude das injustiças que sofre esse grupo populacional aponta o estudo Desigualdades raciais no Brasil/Um balanço da intervenção governamental, de Luciana Jaccoud e Nathalie Beghin (2002). Ainda de acordo com a mesma publicação, a análise das estatísticas oficiais mostra que, apesar do crescimento econômico que marcou a segunda metade do século XX, as desigualdades econômicas e sociais entre brasileiros brancos e não brancos não se alteraram.
O Instituto Cidadania, organização não-governamental, divulgou em 2004 o Projeto Juventude, após dezenas de reuniões com a sociedade civil que abrange amplamente o tema das políticas públicas. Nas suas conclusões o documento diz a questão racial, ao lado de gênero e classe social, constituem os elementos que determinam opções, situações e condições ao longo da vida, devendo ser considerados elementos estruturantes das políticas públicas de juventude. A diversidade das formas de manifestação cultural e de linguagens identificadas entre os jovens negros é concernente à realidade de um país de enorme extensão territorial e multicultural como o Brasil. As políticas apontadas são, entre outras, diversidade na mídia, cotas raciais nas universidades, ações afirmativas no mercado de trabalho, saúde da população negra, atenção especial à jovem negra e respeito as expressões cultura e religião jovem negra.

Quais são os canais de atuação do jovem? As opções são muitas, como associações, movimento estudantil, grupos jovens, cultural (capoeira, hip-hop), sindicatos, partidos políticos, cobrança com os governos e com o legislativo, não importa o canal, o importante é ser um jovem-cidadão consciente e um futuro profissional ético.